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domingo, 28 de janeiro de 2018

Batismo: Origem e Prática

Batismo: Origem e Prática
Por Sha’ul Bentsion

I – INTRODUÇÃO


Um dos assuntos mais controversos por incrível que pareça é o do mikveh (batismo). O que é? De onde veio? O que simboliza? Como deve ser feito? Em nome de quem? São essas perguntas que procuramos abordar neste estudo.

II – A ORIGEM DO ATO DE IMERSÃO

A verdadeira origem do ato de imersão (popularmente conhecido como “batismo”) está na Torá. A Torá determinava a prática da imersão em algumas situações:

1 – Imersão para o caso de impureza ritual (vide Vayicrá / Levítico 13 a 15)

O contato com coisas impuras poderia tornar uma pessoa “cerimonialmente impura”. Tal impureza significaria que não poderia participar de certas cerimônias e comemorações. Em alguns casos extremos (doença), a pessoa poderia até mesmo ser afastada completamente do convívio social.

Cremos que aqui podem ser extraídas duas lições: a primeira é a de que D-us se preocupava com a higiene e com a saúde do povo. A imersão, além do seu significado espiritual, é um banho. E o asseio permitia evitar a propagação de doenças. O segundo aspecto é o que D-us ensina sobre Seu próprio caráter: não podemos nos chegar perante Ele, que é Santo, de forma impura.

2 – Como consagração de Sacerdotes (vide Vaiyicrá / Levítico 8:6)

Os cohanim (sacerdotes) também passavam pelo ritual de imersão, conforme podemos ver no versículo acima. Sempre atrelada a um significado de purificação, a imersão neste caso era especialmente para a consagração ao sacerdócio.

Além disto, o Tanach (Primeiro Testamento) também aponta para a imersão como um símbolo do perdão dos pecados. Ao contrário do que muitos pensam, esta noção não está presente apenas na B’rit Chadashá. Vejam aqui o que diz David HaMelech (o Rei David) em Tehilim (Salmos) 51:2:

“Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado.”

O simbolismo da água para o perdão dos pecados já estava presente naquela época.

Vemos ainda Shlomo HaMelech (o Rei Salomão) fazendo o mesmo uso figurativo da água. Vide Mishlei (Provérbios) 30:12

“Há gente que é pura aos seus olhos, e contudo nunca foi lavada da sua imundícia.”

Os Nevi’im (profetas) também fazem menção ao ato de lavagem (que deriva da idéia da imersão) associado à purificação. Vejamos o que diz Yeshayahu (Isaías) 1:16

“Lavai-vos, purificai-vos; tirai de diante dos meus olhos a maldade dos vossos atos; cessai de fazer o mal;”

O profeta Z’charyah é ainda mais impressionante, dando-nos uma alegoria que inegavelmente vem da imersão. Vejamos Z’charyah (Zacarias) 13:1:

“Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de David, e para os habitantes de Yerushalayim, para remover o pecado e a impureza.”

III – A QUESTÃO DO NOVO NASCIMENTO

No Judaísmo tradicional, encontramos menção sobre a imersão em seu documento mais antigo, a Mishná. Segundo a Mishná (em m.Mikvaot), as “lavagens” rituais descritas na Torá nada mais são do que o mikveh (imersão ritual).

Além dos detalhes sobre como era (e ainda é) o mikveh, encontramos também no Talmud uma coisa curiosa. Nossos sábios ensinam que se uma pessoa deseja se tornar prosélito do Judaísmo, deve aprender sobre algumas mitsvot (mandamentos) fundamentais, e, logo após a sua circuncisão, deveria passar pela imersão. Somente após a imersão era considerado como sendo pertencente ao povo.

O ritual de imersão era conhecido como “nascer de novo”, pois simbolicamente morria um gentio, e nascia um judeu. Com isto em mente, podemos agora entender melhor o diálogo entre Yeshua e Nakdimon (Nicodemos) em Yochanan (João) 3:

“Este foi ter com Yeshua, de noite, e disse-lhe: Rabino, sabemos que és Rabino, vindo de Elohim; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Elohim não estiver com ele. Respondeu-lhe Yeshua: Amen, Amen, e eu te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Elohim. Perguntou-lhe Nakdimon: Como pode um homem nascer, sendo velho? por acaso pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Yeshua respondeu: Amen, Amen, e eu te digo que se alguém não nascer da água e da Ruach, não pode entrar no reino de Elohim. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido da Ruach é espírito.” (Yochanan / João 3:2-6)

O grande espanto de Nakdimon (Nicodemos) não era com o termo “nascer de novo”. Como rabino parush (fariseu), ele sabia muito bem o que representava “nascer de novo”. A grande surpresa dele estava no fato de que ele já era judeu de nascimento (daí a pergunta dele: poderia ele entrar novamente no ventre materno)?

Nakdimon se surpreende com o fato de que até mesmo os judeus precisavam “nascer de novo” para verem o Reino de Elohim. O “nascer de novo” de um gentio significaria uma aproximação a Elohim, uma escolha de uma vida de submissão ao D-us de Israel. Da mesma forma, Yeshua estava dizendo que o mesmo compromisso era necessário da parte dos judeus. O nascer de novo de um judeu representaria sua teshuvá (retorno ao Eterno), uma reaproximação e símbolo de submissão ao Eterno.

Reparem no que diz Yeshua no passuk (versículo) 6. O fato de ser judeu significaria uma proximidade no campo físico. Porém, era necessário achegar-se a D-us espiritualmente. Daí a necessidade da imersão até mesmo para o judeu.

IV – A IMERSÃO E OS ESSÊNIOS

Os Manuscritos do Mar Morto, que nos relatam a teologia dos essênios também é importantíssima para entendermos o mikveh (batismo). Podemos perceber por tais manuscritos que o mikveh (batismo) nunca foi considerado como sendo algo que purificasse os pecados em si mesmo, mas sim um símbolo externo daquilo que ocorria internamente. Vejam o que dizem alguns dos fragmentos do Mar Morto:

“Cerimônias de expiação não podem restaurar sua inocência, nem mesmo águas de cultos a sua pureza. Ele não pode ser santificado pela imersão em oceanos e rios, nem purificado por banhos rituais.” (1Qs Col. 3 linha 4f)

“Nenhum dos homens perversos deve entrar nas águas purificadoras usadas pelos homens santos nem entrar em contato com a sua pureza.” (1Qs. Col. 5 linha 4f)

O historiador judeu Flavio Josefo escreve também a respeito dos essênios:

“Depois disto eles se ajuntam novamente em um lugar, e após se vestirem com túnicas brancas, eles se banham em água fria. E depois do término desta purificação, todos eles se encontram em uma de suas moradas” (Josefo, Guerra dos Judeus, II, 6, 2-13)

V – O IMERSOR E O REDENTOR

O mikveh (batismo) portanto não foi uma invenção de Yochanan o Imersor (João Batista). Yochanan apenas continuava a tradição judaica de imersão em águas (vide Mt. 3:6,11; Mc. 1:4-5; Lc. 3:2-3,7; At. 19:3-4). A diferença com relação a Yochanan estava na sua forte mensagem de teshuvá (retorno a D-us) através do arrependimento e da consagração. Ele não inventou uma nova fórmula ritualística.

Josefo escreve o seguinte sobre Yochanan o Imersor (João Batista): “... [Yochanan] mandava os judeus exercerem virtude, tanto através da justiça uns para com os outros, como também através da piedade uns para com os outros, e ainda a piedade para com D-us, e desta forma virem se imergir para que a lavagem fosse aceitável [a D-us]...” (Josefo; Ant. 18:5:2).

A grande diferença entre a imersão de Yochanan (João) e a imersão de Yeshua não estava na parte ritualística, mas sim no objetivo e na autoridade. A imersão de Yochanan (João) tinha por objetivo preparar o caminho do Eterno, consagrando pessoas à teshuvá, ou seja, ao retorno ao Eterno. Já a imersão de Yeshua representa que a pessoa morreu com Ele, e nasceu novamente.

1 - A Imersão de Yochanan

· Representava arrependimento (vide Atos 19:4)
· Preparava as pessoas para receberem a Yeshua (Vide Mt. 3)
· Requeria a confissão dos pecados (Mt. 3:6)

2 - A Imersão de Yeshua

· Simboliza o novo nascimento para o Reino de Elohim (vide Jo. 3)
· Simboliza a remissão dos pecados (vide Atos 2:38)
· Simboliza a regeneração em Yeshua (Rom. 6:11)
· Simboliza que morremos com Ele para o pecado, e seremos ressuscitados com Ele (vide Rom 6 e Col 2:12)

Ao contrário das demais imersões bíblicas, esta imersão é ÚNICA (vide Efésios 4:5)

VI - COMO DEVE SER A IMERSÃO

1 – Segundo a Tradição Judaica

Segundo a tradição judaica, a imersão deve ser feita num local onde haja água corrente. A pessoa deve ser completamente submergida. Durante o tempo em que estiver debaixo d’água, costuma-se recitar o Sh’má, a nossa declaração de fé mais básica, e pensar em D-us. Deve-se procurar sentir que o ser totalmente submerso em água é como estar completamente submergido na presença de D-us. Não deve ser um ato mecânico, nem tampouco deve ser muito rápido, pois é um momento de reflexão e conexão com o Eterno.
O mikveh também representa a cura através da regeneração. Para nós, esta cura tem uma conotação espiritual. Ao levantarmos do mikveh, devemos procurar nos concentrar em cada parte de nosso corpo, pensando na regeneração dos mesmos. Isto para nós que somos remidos em Yeshua é especialmente significativo, pois representa que cada parte de nosso corpo foi restaurada por Ele e para Ele! Esta reflexão nos ajudará a pensarmos sobre como empregaremos cada parte de nosso corpo no serviço a Ele, e em tudo aquilo que estas partes do corpo faziam, que desagrava a Ele, e que agora sepultam a natureza do pecado.

2 – Segundo a B’rit Chadashá

A B’rit Chadashá apóia a idéia de que o batismo seja na realidade uma imersão. A própria natureza da palavra no grego (“baptos”) quer dizer justamente isto: imersão. Portanto, “batismo por aspersão” é o mesmo que dizer “imersão por asperção”, ou seja, é uma expressão contraditória em si mesma, e simplesmente não existe biblicamente falando. A palavra original aramaica para “batismo” é mamodita, que também significa imersão.
Portanto o mikveh bíblico deve ser por imersão. Pelo que vemos na B’rit Chadashá, também costumava ser feito em fontes de água corrente.
Vemos também que este mikveh deve ser feito mediante confissão pública de Yeshua, e também um arrependimento de nosso estado de pecador (que faz com que precisemos ser regenerados por Ele – vide Atos 2)

Vemos também pela história de Filipe e do crente Etíope, em Atos 8, que a partir do momento em que a pessoa recebe a Yeshua, nada a impede de fazer o mikveh, tão logo tenha certeza de sua decisão por Yeshua. Aliás, na B’rit Chadashá era sempre feito desta forma, o que nos demonstra que tão logo a pessoa se decida, deve fazê-lo.

E, por fim, TODOS os exemplos de mikveh (batismo) que vemos nas Escritura são de atos conscientes, e de adultos. Não vemos em nenhum momento nada que justique o mikveh (batismo) infantil por asperção. Tal batismo é totalmente errado, tanto em forma (normalmente não é feito em nome de Yeshua, e é feito por asperção) quanto em conteúdo (não há ato voluntário do ‘batizando’)

3 – Em nome de quem?

Um outro aspecto importante do mikveh é que ele deve ser feito em nome de Yeshua. Sabemos atualmente que o texto de Mt. 28:19 contém um acréscimo posterior, e que originalmente dizia (conforme testemunho de Eusébio, confirmado por manuscritos hebraicos e pela própria história da igreja): “Portanto ide, fazei talmidim em todas as nações em Meu Nome;” (Mt. 28:19 original)

Em todas as passagens que mencionam a forma como o mikveh deveria ser realizado, vemos que é em nome de Yeshua.

“Kefá então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja imergido em nome de AD-NAI Yeshua HaMashiach, para remissão de seus pecados; a fim de receber o dom da Ruach HaKodesh.” (Atos 2:38)

“Porque sobre nenhum deles havia ele descido ainda; mas somente tinham sido imergidos em nome do Senhor Yeshua.” (Atos 8:16)

“Mandou, pois, que fossem imergidos em nome de Yeshua HaMashiach. Então lhe pediram que ficasse com eles por alguns dias.” (Atos 10:48)

“Quando ouviram isso, foram imergidos em nome do Senhor Yeshua HaMashiach.” (Atos 19:5)

VI – BATISMO SALVA?

Existe uma grande controvérsia sobre o possível fato de que o mikveh (batismo) seria condição de salvação. A confusão se dá por conta especialmente de Mc. 16:16 e outros textos semelhantes que parecem apontar nesta direção:

” Quem crer e for imergido será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc. 16:16)

O mikveh (batismo) é uma mitsvá (mandamento) dado pelo Eterno. O cumprir o mandamento faz parte do levar uma vida de obediência perante Ele. E isto é reflexo da nossa condição de salvos, e não um pré-requisito para sermos salvos. Vejamos Efésios 2:

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Elohim; não vem das obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8-9)

Repare que Mc. 16:16 não diz “mas quem não crer ou não for imergido será condenado”. Por que? Porque o mikveh que fazemos (batismo nas águas) é uma expressão exterior do mivkeh que ocorre em nossos corações (somos batizados pelo sangue de Yeshua).

O mikveh (batismo) que salva é o sangue do cordeiro, que lava nossos corações.

VII – CONCLUSÃO

Através deste estudo, podemos concluir:

· Que há vários tipos de imersão, dentre eles a cerimonial, a que é pelo pecado, a de consagração ao sacerdócio, e a imersão que simboliza a salvação.
· O mikveh (batismo) não é um ritual novo iniciado por Yochanan o Imersor (João Batista)
· Todas as imersões podem ser feitas com freqüência, com exceção da imersão que simboliza a salvação, que só é feita uma única vez (a não ser que a pessoa conclua que fez uma vez mas, por algum motivo qualquer, não teve valor)
· O mikveh (batismo) de Yeshua é voluntário, e portanto não deve ser feita em crianças. Se alguém foi imergido quando criança, deve fazer a imersão novamente (na realidade, será como se estivesse fazendo pela primeira vez) voluntariamente, assim que tiver consciência suficiente para aceitar Yeshua.
· Não existe mikveh (batismo) por asperção
· O mikveh (batismo) original era feito em nome de Yeshua
· Para fazermos o mikveh (imersão), é necessário crer em e confessar Yeshua, e se arrepender dos pecados
· O mikveh (batismo) deve ser feito tão logo fique claro que a pessoa aceitou verdadeiramente a Yeshua.
· O mikveh (batismo) é uma mitsvá (mandamento), mas não salva.

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